Obras

O Coração das Trevas (2012)
Tinta em couro e sal
152 cm

Por volta de 2010, uma foto de um submarino de produção artesanal apareceu em vários jornais e revistas. Era austero nos materiais e na execução, mas ambicioso nos fins, sendo usado para a distribuição de cocaína. Foi de uma cidade para outra, circulando sob rios e lagoas, atravessando fronteiras sem levantar suspeitas.

O submarino, de consideráveis dimensões, foi o resultado da tecnologia do tráfico de drogas, e foi capturado devido a um erro humano. Os tripulantes, sufocados, emergiram à procura de ar, sendo avistados e detectados pelo Exército.

A imagem foi apocalíptica e lembrou-me o Apocalipse Now, filme de Francis Ford Coppola que se baseia no Heart of Darkness de Joseph Conrad. Fui conduzido a ler o livro por esta analogia e pelo impacto da imagem, criando um elo inevitável com a exploração do marfim no Congo Belga pelas imensas indústrias coloniais que chacinaram os elefantes sem piedade ou respeito. A troca de presas como mercadoria recordou-me os frequentes e sádicos assassinatos do tráfico de droga. A mercadoria ela própria carregada de símbolos de poder e domínio.

A cor do marfim também me recordou a brancura da cocaína e do sal. A relação pode soar como uma triangulação, mas tem a sua lógica própria. O sal foi em tempos uma moeda, uma troca económica. Lingotes ou torrões de sal atravessaram o deserto sem perder valor, até estalarem ou partirem. O Império Romano pagava ordenados com o pó de sal restante. O salário era definido como a medida de sal para um dia de trabalho.

Estas presas estão suspensas no tecto da galeria com um simples fio que segura os anéis do saco de cabedal. O saco cilíndrico onde os populares costumavam guardar moedas era chamado canutt – tornava-se mais firme à medida que mais moedas eram colocadas no seu interior.

As presas são penduradas no tecto e (para minha inicial surpresa) movem-se em rotação, com uma lentidão estranha e graciosa, rodando simultaneamente e deixando algumas figuras de sal no chão.

Cortesia do artista e Gladstone Gallery

local: “Avanços e recuos da globalização” EXPOSIÇÃO PRINCIPAL,Museu de Arte de Macau
16/07/2021~17/10/2021
Praça do Tap Siac, Edif. do Instituto Cultural, Macau
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