Os cães figuram nas obras de Rodel Tapaya desde sua primeira incursão na tradução visual dos mitos e lendas das Filipinas. O “melhor amigo do homem” é retratado como o vigário da divina representação e um intermediário entre o homem e a natureza. Em “Dias de Cão”, a cabeça gigante branca de um cão retido por uma coleira de aço em funil parece deslocada no corpo escuro e peludo de outra fera. A vinheta do animal a ser aplacado por fantasmagóricas engrenagens humanóides é a mais vívida do quadro, que é uma alegoria da exploração da mão-de-obra terceirizada durante a globalização. A economia de remessas que manteve a economia filipina à tona resultou no êxodo de trabalhadores, intelectuais e gestores profissionais. Essa fuga de cérebros deixou um vácuo político onde deveria haver uma massa crítica para orientar a conversa política sobre a nação. A exploração laboral espelha a extracção de recursos naturais, simbolizada pela figura encapuzada no centro da composição que segura um galho de árvore e o pé da besta rolando um tronco. À direita dessas figuras, salpicos de tinta branca formam o leve esqueleto de um crocodilo, conhecido pela sua longa vida e importância no folclore filipino como a reencarnação dos ancestrais. Todas essas figuras se fundem num semblante mortal, que sugere uma profunda brutalidade cíclica à espreita sob o verniz da cultura cosmopolita abraçada pela maioria dos filipinos num capitalismo tardio.
Rodel Tapaya Rodel Tapaya nasceu em 1980, em Montalban, nas Filipinas. No âmago do trabalho de Rodel Tapaya está a sua fusão contínua de narrativa popular e realidade contemporânea dentro da estrutura da memória e da história. Utilizando uma variedade de técnicas, desde grandes acrílicos sobre telas até à pintura intra-vidro, artesanato tradicional, diorama e desenho, Tapaya filtra as suas observações do mundo por meio de contos populares e pesquisa histórica pré-colonial, criando montagens caprichosas dos seus personagens. Tapaya ganhou o cobiçado galardão de topo nos Prémios de Arte Nokia, que lhe permitiu seguir cursos intensivos de desenho e pintura na Parsons School of Design em Nova Iorque e na Universidade de Helsínquia, na Finlândia. Em 2011, conquistou um feito histórico para um artista filipino ao ganhar o Signature Art Prize concedido pela Asia-Pacific Breweries Foundation e pelo Museu de Arte de Singapura. Foi um dos Treze Artistas Premiados do Centro Cultural das Filipinas em 2012. O seu trabalho integra em vários museus e colecções institucionais, tais como: Galeria de Arte de Nova Gales do Sul, Galeria Nacional da Austrália, Mori Art Museum em Tóquio, Museu de Arte de Singapura, Museu Bencab Filipinas, Galeria de Arte Ateneo, nas Filipinas, Museu de Arte Pintô, nas Filipinas e Banco Central das Filipinas, entre outros.
Cedida pela Tang Contemporary Art