Obras

A Estatística dos Milagres
Carlos Marreiros (Macau, China)
Instalação (acrílico, contraplacado, papel, perfis metálicos, argila, luzes e objectos diversos)
600 x 230 x 100 cm
2023

Santo António (1195–1232) é um santo muito conceituado em todo o mundo, especialmente em Portugal, Itália, Estados Unidos da América e Macau. Era um Santo taumaturgo, casamenteiro e advogado.

Os seus sermões eram notáveis e prodigiosos, mas certa vez, os homens pouco crentes não o quiseram ouvir, então ele dirigiu um sermão aos peixes. Estes puseram a cabeça de fora para ouvir o santo, o rio ficou cheio de cabeças de todo o tipo de peixes para o ouvir atentamente. Este fenómeno ficou conhecido como o “Sermão aos Peixes de Santo António”.

Estes fenómenos têm muito seguidores e crentes e chamam-se milagres. Todavia, hoje em dia não há milagres. Porquê? E quando os há são circunscritos a comunidades e locais.

O aproveitamento dos media é tremendo. Este milagre é estudado em Macau e existe uma bela ilustração no altar lateral dedicado a este santo precisamente na Igreja de Santo António de Macau. A sua devoção é ainda hoje grande em Macau e todos os anos há uma procissão onde a sua estátua percorre a Praça de Luís de Camões.

Não muito longe deste local, há também a tradição de um milagre realizado por Na Tcha (Nazha, em mandarim), o menino traquina, uma divindade igualmente venerada em Macau. Ele aparecera a uma portuguesa ou macaense, próximo da Fortaleza do Monte, no século XVII, exibindo a sua bela acrobacia, dando muitas cambalhotas no ar sem qualquer suporte físico. Há neste local um pequeno templo ou altar público desde então.

A relação entre milagres e a vida contemporânea desvaneceu-se. Hoje há só milagres económicos. E também os Matrix e outras formas de anjos cibernéticos, milagreiros, demónios bons, metálicos e digitais. Os santos escasseiam á medida que os tempos se renovam. Porquê?

Ninguém sabe. Muito menos eu. Não há estatísticas de milagres. É essa dicotomia que irei explorar através de uma pintura-instalação.
 


Carlos Marreiros

Carlos Alberto dos Santos Marreiros é um arquitecto, urbanista, designer e artista premiado cujas criações de vanguarda são amplamente reconhecidas e publicadas internacionalmente. Natural de Macau, estudou em Macau, Portugal, Alemanha e Suécia, antes de regressar a Macau em 1983. É regularmente convidado para expor e proferir palestras em galerias e universidades da Europa, América e Ásia. É também professor universitário e líder comunitário, servindo em muitas organizações não-governamentais e comités governamentais.

Agraciado com a “Medalha de Mérito Cultural” pelo Governador de Macau (1987) e a “Medalha de Valor”, a mais alta distinção da região, pelo Governador de Macau (1999). Condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com o título de “Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique” (1999) e agraciado com a “Medalha de Mérito Profissional” pelo Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (2002) e foi agraciado com o “Prémio Identidade 2019” do Instituto Internacional de Macau.

Carlos Marreiros é o fundador e presidente do MAA Marreiros Architectural Atelier Ltd., Sociedade de Artes Bambú, Limitada e Albergue SCM – ALBcreativeLAB.

Como artista já participou de mais de 32 mostras individuais e mais de 85 exposições colectivas em todo o mundo. Também criou ilustrações para mais de 20 autores e mais de 100 livros e revistas publicados em chinês, português e inglês.

local: Museu de Arte de Macau
28/07/2023 - 29/10/2023