A série de trabalhos fotográficos “Uma Conversa com o Sol” com desenhos à mão sobre vidro decorre do estudo de Apichatpong sobre o ideal do ser, do filósofo Jiddu Krishnamurti (1895–1986), abordando o interesse do artista em explorar a autonomia da máquina e a colaboração homem-máquina. A primeira camada é uma imagem de tecidos gerados por IA. Apichatpong associa os tecidos a cortinas e telas cinematográficas, “que são um vazio que pode ser preenchido com luz e memória”. Algumas das instalações e performances de Apichatpong tratam da experimentação de diferentes formas de activar a tela. Para esta peça, o artista usa a plataforma de arquitectura de rede neural VQGAN+CLIP, gerando imagens que são consideradas vestígios de memória — são essencialmente interpretações e combinações de imagens produzidas por humanos. A questão é se a inteligência artificial pode ser definida legitimamente pela sua alteridade. A segunda camada da obra é o desenho do próprio Apichatpong sobre as imagens, criado intuitivamente “como uma criança o faria, de forma curiosa”. Esta justaposição de memória profunda com formas sem sombras e sem peso evoca os ensinamentos de Jiddu Krishnamurti sobre como ser, encenando uma dinâmica efémera e substancial.
Apichatpong Weerasethakul Apichatpong Weerasethakul nasceu em 1970 em Banguecoque e foi criado em Khon Kaen. Estudou arquitectura na Universidade de Khon Kaen e mais tarde obteve um mestrado em cinema pela School of the Art Institute of Chicago. Começou a fazer filmes e vídeos em 1994 e tornou-se um produtor de cinema independente na Tailândia. Os filmes e as obras de arte de Apichatpong Weerasethakul são, no fundo, similares, sempre com alusões às questões políticas e sociais, o que faz parte integrante da sua misteriosa e poética linguagem artística. Trabalhando principalmente com o tempo e a luz, e de forma meticulosa com os actores, o artista constrói uma ponte delicada para o espectador e permite que este viaje entre o real e o mítico, o individual e o colectivo, o espiritual e o somático, entrando através de narrativas pouco ortodoxas numa rica consciência, onde se encontram as memórias, mitologias, sonhos e desejos do artista.
Cedida pela Kiang Malingue, Hong Kong